segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Nota final


                              Notas trabalho                     Notas das provas   Média Média Média
Nome trabalhos provas total
Alessandra      10,0      9,0     10,0             9,8               9,7       9,8    9,7
Barbara        9,0      8,0       7,5             8,5               8,2       8,5    8,3
Beatriz        9,0      8,5     10,0           10,0               9,2     10,0    9,6
Davi        9,5      9,0       8,5             9,4               9,0       9,4    9,2
Dayane        9,5    10,0     10,0             9,1               9,8       9,1    9,5
Ewerton        8,5      8,5       7,5             8,5               8,2       8,5    8,3
Fernando        9,5      9,5       8,5             9,8               9,2       9,8    9,5
Gabriela Pereira        8,0      9,5       9,5           10,0               9,0     10,0    9,5
Gabriela Oliveira        9,7    10,0       8,0             8,2               9,2       8,2    8,7
Hugo        9,0      9,0     10,0             8,2               9,3       8,2    8,8
Isabela      10,0      9,5       7,5             7,9               9,0       7,9    8,5
Italo        9,5    10,0     10,0             9,2               9,8       9,2    9,5
Jessica        9,0      9,0       9,5             9,6               9,2       9,6    9,4
João Victor        9,0    10,0       7,0           10,0               8,7     10,0    9,3
Joyce        8,5      9,0     10,0             8,6               9,2       8,6    8,9
Larissa        8,5      9,0       8,5             9,8               8,7       9,8    9,2
Maria Alcina        9,0      9,5       9,5             9,0               9,3       9,0    9,2
Matheus Antonio        8,0      7,0       7,0             8,8               7,3       8,8    8,1
Pedro        9,5      9,5       9,0           10,0               9,3     10,0    9,7
Rayssa      10,0      9,5       7,0             9,7               8,8       9,7    9,3
Vitor        9,5    10,0       9,7             9,7               9,7       9,7    9,7
Vitória        8,5      7,0       7,0           10,0               7,5     10,0    8,8
Yago        9,0      8,5       7,0           10,0               8,2     10,0    9,1
                          -            -         -  
Camila        7,5      8,5       9,0             6,9               8,3       6,9    7,6

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Quadro de notas dos trabalhos e da 1ª prova. Ler observação abaixo do quadro.

A média final é a média das notas dos trabalhos com peso um somada à média das notas das provas com peso dois dividido por três. Passa direto quem tiver média sete ou acima, vai para final quem tiver média acima de quatro e menor que sete. Abaixo de quatro reprovação.


Notas de História do Jornalismo  2015.2














                              Notas trabalho                     Notas das provas   Média Média Média
Nome trabalhos provas total
Alessandra      10,0      9,0     10,0             9,8               9,7       4,9        6,5
Barbara        9,0      8,0       7,5             8,5               8,2       4,3        5,6
Beatriz        9,0      8,5     10,0           10,0               9,2       5,0        6,4
Davi        9,5      9,0       8,5             9,4               9,0       4,7        6,1
Dayane        9,5    10,0     10,0             9,1               9,8       4,6        6,3
Ewerton        8,5      8,5       7,5             8,5               8,2       4,3        5,6
Fernando        9,5      9,5       8,5             9,8               9,2       4,9        6,3
Gabriela Pereira        8,0      9,5       9,5           10,0               9,0       5,0        6,3
Gabriela Oliveira        9,7    10,0       8,0             8,2               9,2       4,1        5,8
Hugo        9,0      2,0     10,0             8,2               7,0       4,1        5,1
Isabela      10,0      9,5       7,5             7,9               9,0       4,0        5,6
Italo        9,5    10,0     10,0             9,2               9,8       4,6        6,3
Jessica        9,0         9,5             9,6               6,2       4,8        5,3
João Victor        9,0    10,0       7,0           10,0               8,7       5,0        6,2
Joyce        8,5      9,0     10,0             8,6               9,2       4,3        5,9
Larissa        8,5      9,0       8,5             9,8               8,7       4,9        6,2
Maria Alcina        9,0      9,5       9,5             9,0               9,3       4,5        6,1
Matheus Antonio        8,0      7,0       7,0             8,8               7,3       4,4        5,4
Pedro        9,5      9,5       9,0           10,0               9,3       5,0        6,4
Rayssa      10,0      9,5       7,0             9,7               8,8       4,9        6,2
Vitor        9,5    10,0       9,7             9,7               9,7       4,9        6,5
Vitória        8,5      7,0       7,0           10,0               7,5       5,0        5,8
Yago        9,0      8,5       7,0           10,0               8,2       5,0        6,1
                          -            -             -  
Camila           9,0             6,9               3,0       3,5        3,3
Obs.: Atenção. Hugo, seu 2º trabalho foi feito com um tema não pedido. O texto era "os
indiferentes, você fez "Não apenas indivíduo...". Entregue certo na próxima aula; Jessica,
não encontrei o seu 2º trabalho, poderia trazer para mim com a nota ?; Camila, não 
encontrei seus dois primeiros trabalhos, poderia trazê-los para mim com as notas ?

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Terceiro trabalho

Devido a impossibilidade de capturar a tempo o texto para o trabalho, a data de entrega foi adiada para 18/11.
O texto está abaixo ou no seguinte endereço eletrônico: http://www.bocc.ubi.pt/pag/meditsch-eduardo-jornalismo-conhecimento.pdf



O jornalismo é uma forma de conhecimento?
Eduardo Meditsch
Universidade Federal de Santa Catarina
Setembro de 1997
Índice
1 Introdução
1
2 Abordagens do jornalismo como co-
nhecimento
2
3 Pressupostos do jornalismo como co-
nhecimento
3
4 Características do jornalismo como
conhecimento
6
5 Problemas do jornalismo enquanto co-
nhecimento
9
6 Efeitos do jornalismo enquanto co-
nhecimento
11
7 Conclusão: a pertinência do jorna-
lismo enquanto conhecimento
11
8 Referências Bibliográficas:
12
1 Introdução
Convidaram-me a vir até aqui falar so-
bre uma pergunta, o que é uma perspec-
tiva bastante interessante. Dizia o educador
Paulo Freire, que faleceu no Brasil há pouco
tempo, que todo o conhecimento autêntico
nasce de uma pergunta. Dizia mais: que
não há conhecimento sem pergunta. O ato de
Conferência feita nos Cursos da Arrábida - Uni-
versidade de Verão.
conhecer seria necessariamente o ato de per-
guntar e de responder à pergunta. Neste as-
pecto, a interrogação colocada no título pelo
professor Mário Mesquita é extremamente
apropriada.
Não posso garantir se, ao final da minha
exposição e do debate que faremos sobre ela,
alguém no auditório estará suficientemente
esclarecido para responder a pergunta do tí-
tulo. A pergunta é demasiado complexa e ad-
mite interpretações diferenciadas. Vou apre-
sentar aqui a minha visão, que aponta para
esta mesma frase como resposta à pergunta,
no sentido afirmativo, sem o ponto de inter-
rogação, embora com algumas ressalvas.
No entanto, há uma segunda pergunta
subjacente a este debate, que é a que está
expressa no tema geral do curso, e que
pode representar uma armadilha: “Jorna-
lismo: Transmissão de Conhecimentos ou
Degradação do Saber? Aparentemente, se
respondermos à primeira pergunta de uma
determinada maneira – por exemplo, su-
primindo o ponto de interrogação – esta-
remos automaticamente respondendo à se-
gunda, posicionando-nos entre as duas alter-
nativas que estão dadas na sua formulação.
Os jornalistas gostam de montar este tipo
de armadilha, e os incautos costumam cair
2 Eduardo Meditsch
nelas com facilidade. Aí, é necessário ter
cuidado para evitar um tropeço. Então, sa-
liento que ao longo da exposição procurarei
responder à primeira pergunta suprimindo
o ponto de interrogação, mas que esta res-
posta não implica necessariamente num po-
sicionamento entre os termos que aparecem
como mutuamente excludentes na segunda
pergunta. A hipótese que vou defender é
de que o Jornalismo é uma forma produ-
ção de conhecimento. No entanto, na prá-
tica, esta forma de conhecimento tanto pode
servir para reproduzir outros saberes quanto
para degradá-los, e é provável que muitas ve-
zes faça essas duas coisas simultaneamente.
2 Abordagens do jornalismo
como conhecimento
A questão do Jornalismo enquanto conheci-
mento, por sua complexidade, admite muitas
interpretações, como já foi dito. Para simpli-
ficar a exposição, vou classificar estas inter-
pretações, que compreendem diferentes nu-
ances, em três abordagens principais:
A primeira delas nasce da definição de
conhecimento não como um dado concreto,
mas como um ideal abstrato a alcançar. Uma
vez estabelecido este ideal, passa a ser o pa-
râmetro para julgar toda a espécie de conhe-
cimento produzido no mundo humano. A era
moderna, com as fantásticas realizações da
técnica na transformação da vida humana e
no domínio da natureza, acabou por realizar
o sonho dos filósofos positivistas de entroni-
zar “a Ciência” como única fonte de conhe-
cimento digna de crédito. O “método cien-
tífico” foi escolhido como o parâmetro ade-
quado para se conhecer e dominar o mundo,
e toda a tentativa de conhecimento estabe-
lecida à margem deste padrão foi desmora-
lizada, considerada imperfeita e pouco legí-
tima.
Esta visão que entronizava “a Ciência”
como “o método de conhecimento” estabe-
lece a primeira das abordagens do problema
do Jornalismo em relação ao conhecimento:
para ela, o Jornalismo não produz conheci-
mento válido, e contribui apenas para a de-
gradação do saber. São notáveis as observa-
ções do intelectual austríaco Karl KRAUS a
este respeito, escritas no início do século:
“O que a sífilis poupou será devastado
pela imprensa. Com o amolecimento ce-
rebral do futuro, a causa não poderá mais
ser determinada com segurança.(...) A
imagem de que um jornalista escreve tão
bem sobre uma nova ópera como sobre
um novo regulamento parlamentar tem
algo de acabrunhante. Seguramente, ele
também poderia ensinar um bacteriolo-
gista, um astrônomo e até mesmo um pa-
dre. E se viesse a encontrar um especia-
lista em matemática superior, lhe prova-
ria que se sente em casa numa matemá-
tica ainda mais superior.”
Kraus não representa um crítico isolado.
Seu pensamento influenciou profundamente
muitos outros intelectuais de respeito, como
Walter BENJAMIN e os fundadores da Es-
cola de Frankfurt. Apesar das críticas que
este ponto de vista vêm recebendo nos úl-
timos anos, sua influência ainda pode ser
constatada em grande parte da produção aca-
dêmica contemporânea sobre o Jornalismo,
que de uma forma ou de outra o situa no
campo do conhecimento como uma ciência
mal feita, quando não como uma atividade
perversa e degradante.
www.bocc.ubi.pt
O jornalismo é uma forma de conhecimento?
3
Uma segunda forma de abordagem do
Jornalismo enquanto conhecimento o situa
ainda como uma ciência menor, mas admite
já que não é de todo inútil. Pode-se utili-
zar como exemplo desta abordagem o ex-
jornalista e sociólogo do conhecimento Ro-
bert PARK, que publicou um artigo sobre
o tema em 1940. A partir da perspectiva
filosófica do pragmatismo de William JA-
MES, que abandona o conhecimento como
um ideal para observá-lo como um dado da
vida humana, concluindo que as pessoas e
as coletividades lidam simultaneamente em
suas vidas com várias espécies de conheci-
mento, PARK começa a definir o Jornalismo
a partir do que tem de diferente, do que lhe é
específico como forma de conhecimento da
realidade.
Embora admita a distinção entre tipos de
conhecimento, o sociólogo norte-americano
não avança neste aspecto muito além do que
JAMES já havia realizado ao distinguir entre
um “conhecimento de” utilizado no cotidi-
ano e um “conhecimento sobre”, sistemático
e analítico, como o produzido pelas ciências.
Para situar o Jornalismo, PARK vai propor
a existência de uma gradação entre as duas
espécies de conhecimento e colocar a notícia
num nível intermediário entre elas.
Este tipo de diferenciação do Jornalismo
a partir do grau de profundidade que alcança
comparativamente à Ciência ou à História é
admitida pelos próprios jornalistas. Ao fa-
zerem comparações entre o seu trabalho e o
dos cientistas, os jornalistas costumam suge-
rir esta forma de gradação. Quando não se
refere à profundidade de análise, a gradação
pode referir-se também à velocidade da pro-
dução, e o Jornalismo já foi definido como a
História escrita à queima-roupa.
A comparação quantitativa dos atributos
do Jornalismo em relação à Ciência ou à
História pode ser útil para elucidar algumas
das suas diferenças, mas parece insuficiente
para definir o que ele tem de específico. Daí
que tenha surgido uma terceira abordagem,
que dá mais ênfase não ao que o Jornalismo
tem de semelhante, mas justamente ao que
ele tem de único e original. Para esta ter-
ceira abordagem, o Jornalismo não revela
mal nem revela menos a realidade do que a
ciência: ele simplesmente revela diferente. E
ao revelar diferente, pode mesmo revelar as-
pectos da realidade que os outros modos de
conhecimento não são capazes de revelar.
Além desta maneira distinta de produ-
zir conhecimento, o jornalismo também tem
uma maneira diferenciada de o reproduzir,
vinculada à função de comunicação que lhe
é inerente. O Jornalismo não apenas repro-
duz o conhecimento que ele próprio produz,
reproduz também o conhecimento produzido
por outras instituições sociais. A hipótese
de que ocorra uma reprodução do conheci-
mento, mais complexa do que a sua simples
transmissão, ajuda a entender melhor o pa-
pel do Jornalismo no processo de cognição
social. Mas, para tornar aceitável esta ter-
ceira abordagem, é necessário compartilhar
alguns dos seus pressupostos.
3 Pressupostos do jornalismo
como conhecimento
Além do pragmatismo que orientou Ro-
bert PARK, diversas outras correntes teóri-
cas oferecem bases de apoio não só para se
aceitar como também para se definir a espe-
cificidade do Jornalismo enquanto conheci-
mento.
As epistemologias críticas, que nas últi-
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4 Eduardo Meditsch
mas décadas têm se dedicado a desmistificar
o preceito positivista da infalibilidade da Ci-
ência, e a demonstrar o caráter cultural e his-
tórico de toda a forma de conhecimento, con-
tribuíram para destruir o ideal de uma ver-
dade única e obrigatória, e principalmente
para estabelecer os limites lógicos de qual-
quer reivindicação de objetividade. Ao rela-
tivizarem as verdades científicas, estas cor-
rentes críticas permitiram também a aceita-
ção de outras verdades como eventualmente
válidas e relativas, de acordo com os seus
pressupostos e objetivos.
Contribuíram para esta nova visão o extra-
ordinário desenvolvimento da compreensão
das linguagens, também elas, enquanto pro-
dutos históricos e culturais. O estudo do dis-
curso, que se interessa pela utilização con-
creta das linguagens, demonstrou que todo
o enunciado que se refere à realidade, ao
refletí-la de certa maneira, também necessa-
riamente a refrata de certa maneira (BAKH-
TIN, 1929).
Por este caminho, procura-se distinguir
a verdade que um enunciado pode conter
da realidade mesma, a realidade referente
que se encontra fora do enunciado. Falar
de “a verdade”, enquanto substantivo, atri-
buto coisificado, assim vai perdendo o sen-
tido. Mais apropriado será se falar no adje-
tivo, no enunciado “verdadeiro”. E poderão
existir muitos enunciados verdadeiros, even-
tualmente até contraditórios entre si, ainda
que cada um coerente com seus pressupos-
tos, porque nenhum enunciado é capaz de es-
gotar a realidade inteira.
Os diferentes gêneros de discurso vão
abordar a realidade de diferentes maneiras,
definindo verdades diversas, cada uma perti-
nente a um objetivo ou a uma situação. Os
argumentos validados num campo do saber
poderão ser considerados absurdos em ou-
tro. Ao mesmo tempo, grande parte do que
costuma ser considerado descoberto e sabido
hoje, por nossa civilização, provavelmente é
ignorado por nove entre dez seres humanos
civilizados.
Os auditórios a que se dirigem os dife-
rentes discursos também tornam mais com-
plexa a questão do saber em nossa sociedade.
A sociologia e a antropologia do conheci-
mento, ao se debruçarem sobre o cotidiano
das pessoas comuns, e não apenas sobre os
relatos dos sábios, reforçaram a idéia de que
a metodologia científica não é o único modo
de conhecer e provavelmente sequer o mais
importante para a nossa sobrevivência indi-
vidual e de nossa existência gregária. Di-
versos tipos de conhecimentos circulam em
diversas redes sociais (BERGER & LUCK-
MANN, 1966). Essa descoberta não signi-
fica uma vitória do irracionalismo, que apon-
taria para o retorno a um mundo assombrado
pelos demônios, como na Idade Média des-
crita por Carl Sagan. Pelo contrário, aponta
para a necessidade de uma Razão mais refi-
nada, que dê conta da extrema complexidade
do mundo, que cada vez mais se expõe a nós
e com isso desafia todos os nossos parâme-
tros.
Entre os fenômenos mais complexos com
que nos deparamos hoje está o funciona-
mento do cérebro humano. O conhecimento
sobre o cérebro tem avançado em progressão
geométrica nas últimas décadas, e a noção da
sua complexidade tem aumentado na mesma
proporção. Já há algum tempo, pensadores
como o pedagogo Paulo Freire vinham aler-
tando para a evidência de que a abertura per-
manente é o que distingue o cérebro humano
do cérebro dos animais. É essa abertura o
que determina a nossa capacidade infinita de
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O jornalismo é uma forma de conhecimento?
5
aprendizagem e o que nos faz superar con-
tinuamente qualquer obstáculo a esta apren-
dizagem, inclusive os estabelecidos por nós
mesmos, como indivíduos ou como coletivi-
dade. As concepções fixas e os paradigmas
estanques são alguns destes obstáculos que
temos superado.
Paulo Freire também advertia para o fato
de que o saber não pode ser transmitido. Ob-
servava que quando qualquer tipo de infor-
mação é comunicada de uma pessoa a ou-
tra com sucesso, isto implica que ela não foi
apenas transferida, como seria de uma dis-
quete para outra num computador, mas que
foi
re-conhecida
pela pessoa que a recebeu.
O cérebro humano não é um recipiente onde
se possa depositar conhecimentos: a apren-
dizagem implica numa operação cognitiva,
onde quem aprende tem um papel tão ativo
quanto quem ensina. Assim, tanto quem en-
sina quanto quem aprende não se limitam
a reproduzir um saber que existia anterior-
mente a seus atos, mas
re-criam
este conhe-
cimento nos próprios atos de aprender e de
ensinar. Desta forma, pode-se afirmar que o
conhecimento não se transmite, antes se
re-
produz
.
A moderna ciência cognitiva, que já conta
com um conhecimento mais aproximado do
funcionamento do cérebro, confirma esta in-
tuição dos pedagogos: a comunicação está
indissoluvelmente ligada à cognição (SPER-
BER & WILSON, 1986). Nosso equipa-
mento cognitivo não registra nem arquiva
informações tal qual as recebe, antes as
processa, classifica e contextualiza, recons-
truindo a informação recebida a partir de es-
quemas de interpretação e informações pré-
vias sobre o tema, o emissor e a situação co-
municativa. O esquema clássico da comu-
nicação como a transferência mecânica de
uma mensagem do emissor ao receptor, por
meio de um processo singelo de codificação
e descodificação, está completamente supe-
rado pelo conhecimento atual do cérebro hu-
mano. Para dar um só exemplo, a emoção,
antes tão desprezada pelo ideal de objetivi-
dade científica, e classificada como “ruído”
no ideal mecânico da comunicação de men-
sagens, vai aparecer agora como um com-
bustível imprescindível à maquinaria da ra-
zão humana (DAMÁSIO, 1994).
A intensa pesquisa que vem sendo reali-
zada no campo da inteligência artificial, no
caminho de criar máquinas que pensem, tem
contribuído também para elucidar de certa
forma a maneira como nós pensamos, e mexe
em nossos juízos de valor sobre o que seja a
maneira mais correta de pensar. Cada obstá-
culo encontrado pelo computador para fazer
o que fazemos chama a atenção dos cientis-
tas para um recurso a mais das nossas pró-
prias mentes, e contribui para a elucidação
de maneira cada vez mais sofisticada de seu
funcionamento. Os técnicos do M.I.T., que
desenvolvem máquinas inteligentes, surpre-
endem o mundo ao revelarem que são capa-
zes de substituir especialistas em áreas tec-
nológicas de ponta para muitos procedimen-
tos, mas não conseguem criar nada aproxi-
mado ao bom senso de uma criança de cinco
anos.
O processo incessante de produção e
re-
produção
do conhecimento depende não só
do equipamento cognitivo dos indivíduos,
mas também das possibilidades de sociali-
zação de suas experiências. Por isso, cada
vez mais se presta atenção no papel desem-
penhado pelas instituições e pelas tecnolo-
gias intelectuais disponíveis em cada socie-
dade e em cada cultura. Diversos autores têm
demonstrado as mudanças ocorridas nas for-
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6 Eduardo Meditsch
mas de pensar e de conhecer em conseqüên-
cia do surgimento da escrita, de sua reprodu-
tibilidade através da imprensa e, mas recen-
temente, num processo que ainda estamos
vivendo, da revolução eletrônica (GOODY,
1977; ONG, 1986; LÉVY, 1990).
Com tantas surpresas, com a descoberta
de tantas limitações e ao mesmo tempo de
tantas possibilidades novas no que já conse-
guimos saber, não é aconselhável descartar
a priori qualquer das formas disponíveis de
conhecer e
re-conhecer
o mundo, por mais
limitada e singela que possa parecer. Daí a
necessidade de se compreender melhor como
funciona o Jornalismo como modo de conhe-
cimento, e de investigar até que ponto ele não
será capaz de nos revelar aspectos da reali-
dade que não são alcançados por outros mo-
dos de conhecer mais prestigiados em nossa
cultura.
4 Características do jornalismo
como conhecimento
Ao utilizar a distinção entre “conhecimento
de” e “conhecimento sobre”, o primeiro sin-
tético e intuitivo, o segundo sistemático e
analítico, dentro da tradição do pragma-
tismo, Robert PARK observa que o Jorna-
lismo realiza para o público as mesmas fun-
ções que a percepção realiza para os indi-
víduos. Conforme Nilson LAGE (1992:14-
5), o Jornalismo descende da mais antiga
e singela forma de conhecimento – só que,
agora, projetada em escala industrial, orga-
nizada em sistema, utilizando fantástico apa-
rato tecnológico”.
Adelmo GENRO FILHO (1987:58), outro
pesquisador brasileiro que se debruçou sobre
esta questão, também ressalva que o Jorna-
lismo como gênero de conhecimento difere
da percepção individual pela sua forma de
produção: nele, a imediaticidade do real é
um ponto de chegada, e não de partida. Esta
ressalva é importante para se discutir os pro-
blemas do Jornalismo como forma de conhe-
cimento e de seus efeitos. No entanto, ao se
fixar na imediaticidade do real, o Jornalismo
opera no campo lógico do senso comum, e
esta característica definidora é fundamental.
A partir dela, pode-se questionar até que
ponto o Jornalismo como modo de conheci-
mento pode ser rigoroso. O conhecimento
do senso comum foi até bem pouco tempo
desprezado pela teoria, uma vez que toda a
ciência moderna se constituiu com base na
sua negação. Mas, na medida em que as
ciências humanas passaram a valorizar a ob-
servação do cotidiano para o desvendamento
das relações sociais, o que era visto como "ir-
relevante, ilusório e falso"começou a apare-
cer não só como um objeto digno de conside-
ração pela teoria do conhecimento mas, em
última análise, como o seu objeto principal
(SANTOS, 1988:8).
Conforme BERGER & LUCKMANN
(1966:40), o senso comum corresponde a
uma atitude cognitiva percebida como natu-
ral. "A atitude natural é a atitude da consci-
ência do senso comum precisamente porque
se refere a um mundo que é comum a mui-
tos homens. O conhecimento do senso co-
mum é o conhecimento que eu partilho com
os outros nas rotinas normais, evidentes da
vida cotidiana". Além disso, a atitude cogni-
tiva natural estabelece uma certa percepção
da realidade como dominante:
"Comparadas à realidade da vida cotidi-
ana, as outras realidades aparecem como
campos finitos de significação, enclaves
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O jornalismo é uma forma de conhecimento?
7
dentro da realidade dominante marcada
por significados e modos de experiên-
cia delimitados. A realidade dominante
envolve-as por todos os lados, por as-
sim dizer, e a consciência sempre retorna
à realidade dominante como se voltasse
de uma excursão”. "Todos os campos fi-
nitos de significação caracterizam-se por
desviar a atenção da realidade da vida
cotidiana. (...) É importante, porém,
acentuar que a realidade da vida cotidi-
ana conserva a sua situação dominante
mesmo quando estes ’transes’ ocorrem.
Se nada mais houvesse, a linguagem seria
suficiente para nos assegurar sobre este
ponto. A linguagem comum de que dis-
ponho para a objetivação de minhas ex-
periências funda-se na vida cotidiana e
conserva-se sempre apontando para ela
mesma quando a emprego para inter-
pretar experiências em campos delimita-
dos de significação"(BERGER & LUCK-
MANN, 1966:43-4).
É o fato de operar no campo lógico da re-
alidade dominante que assegura ao modo de
conhecimento do Jornalismo tanto a sua fra-
gilidade quanto a sua força enquanto argu-
mentação. É frágil, enquanto método analí-
tico e demonstrativo, uma vez que não pode
se descolar de noções pré-teóricas para re-
presentar a realidade. É forte na medida em
que essas mesmas noções pré-teóricas ori-
entam o princípio de realidade de seu pú-
blico, nele incluídos cientistas e filósofos
quando retornam à vida cotidiana vindos de
seus campos finitos de significação. Em con-
seqüência, o conhecimento do jornalismo
será forçosamente menos rigoroso do que o
de qualquer ciência formal mas, em compen-
sação, será também menos artificial e esoté-
rico.
Evidentemente, como todo conhecimento,
o senso comum não é tão democrático como
sugere o termo. O conhecimento é repartido
socialmente, devido ao simples fato do indi-
víduo não conhecer tudo o que é conhecido
por seus semelhantes, e vice-versa, processo
que culmina em sistemas de perícia extra-
ordinariamente complexos. A distribuição
social de conhecimentos, desta forma, não
se dá apenas em termos quantitativos (uns
conhecem mais do que outros), mas tam-
bém qualitativos (conhecem coisas diferen-
tes). Cada campo de conhecimento é com-
partilhado por um auditório específico. A
questão dos auditórios, assim como a dos
campos lógicos, estabelece diferenças entre
o modo de conhecimento das ciências e do
Jornalismo.
A linguagem formal dos cientistas
justifica-se por sua universalidade, a univer-
salidade ideal de seu auditório. Porém, esta
universalidade será igualmente formal, uma
universalidade de direito mas não de fato,
uma vez que esta linguagem só circula por
determinadas redes e cria uma incomunica-
ção crescente entre os dialetos das diversas
especialidades. Neste sentido, quanto mais
as ciências produzem conhecimento, mais
tornam opaco este conhecimento (VIEIRA
PINTO, 1969:165-6). Para penetrar nesta
opacidade, é necessário também penetrar na
rede institucional que a mantém, através dos
processos pedagógicos específicos.
Já o ideal de universalidade do Jornalismo
caminha em outra direção. O auditório uni-
versal que idealmente persegue refere-se a
uma outra rede de circulação de conheci-
mento, constituída pela comunicação para
devolver à realidade a sua transparência co-
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8 Eduardo Meditsch
letiva. É uma universalidade de fato, em-
bora precária, porque só estabelecida institu-
cionalmente de forma indireta e imperfeita,
tal e qual o espaço público pressuposto pelo
ideal democrático que a precede e a requer.
Sua amplitude é também limitada em outra
direção, a intenção do emissor na delimita-
ção do universo do público alvo. Mas é na
preservação deste auditório ideal que o Jor-
nalismo encontra uma de suas principais jus-
tificações sociais: a de manter a comunicabi-
lidade entre o físico, o advogado, o operário
e o filósofo. Enquanto a ciência evolui rees-
crevendo o conhecimento do senso comum
em linguagens formais e esotéricas, o Jorna-
lismo trabalha em sentido oposto.
Além da questão do rigor, outra crítica que
comumente se faz ao Jornalismo é a de que
ele não seria tão capaz de revelar o novo
como a ciência. Partindo de premissas re-
tiradas necessariamente do senso comum, a
argumentação da notícia parte do que o au-
ditório já sabia, ou era suposto saber. "Se o
avião caiu, é claro que existia o avião e que o
avião pertence à categoria das coisas capazes
de cair"(LAGE, 1979:41). Em virtude disto,
a novidade contida numa notícia é limitada.
Como propõe VAN DIJK (1980:176), esta
novidade "é a ponta de um
iceberg
de pressu-
posições e, em consequência, da informação
previamente adquirida”.
Esta constatação sugere que o conheci-
mento proporcionado pelo Jornalismo tem
um duplo papel na construção do senso
comum, em que a revelação da novidade
refere-se a apenas um aspecto. A compreen-
são da notícia envolve o processamento "de
grandes quantidades de informação estrutu-
radora, repetida e coerente, que sirva como
base para ampliações mínimas e outras mu-
danças em nossos modelos do mundo"(VAN
DIJK, 1980:248). O Jornalismo serve ao
mesmo tempo para conhecer e reconhecer.
Por outro lado, a revelação da novidade é
um dado estrutural da retórica do Jornalismo
- a conclusão a que conduz a sua argumenta-
ção. A forma com que chega a esta novidade
também é diferente daquela utilizada pela ci-
ência. Enquanto a ciência, abstraindo um as-
pecto de diferentes fatos, procura estabele-
cer as leis que regem as relações entre eles,
o Jornalismo, como modo de conhecimento,
tem a sua força na revelação do fato mesmo,
em sua singularidade, incluindo os aspectos
forçosamente desprezados pelo modo de co-
nhecimento das diversas ciências.
Como propusemos em trabalho anterior,
no método científico a hipótese pressupõe
uma experimentação controlada, isto é, um
corte abstrato na realidade através do isola-
mento de variáveis que permita a obtenção
de respostas a um questionamento baseado
em sistema teórico anterior. O Jornalismo,
por sua vez, não parte de uma hipótese nem
de sistema teórico anterior, mas da observa-
ção não controlada (do ponto de vista da me-
todologia científica) da realidade por parte
de quem o produz. Também se diferencia
das ciências pelo tipo de corte abstrato que
propõe. O isolamento de variáveis é substi-
tuído pelo ideal de apreender o fato de todos
os pontos de vista relevantes, ou seja, em sua
especificidade (MEDITSCH, 1990:72).
GENRO FILHO (1987:163) apóia-se nas
categorias hegelianas do
universal
,
particu-
lar
e
singular
para definir o modo de co-
nhecimento produzido socialmente pelo Jor-
nalismo:
"...o critério jornalístico de uma informa-
ção está indissoluvelmente ligado à re-
produção de um evento pelo ângulo de
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12 Eduardo Meditsch
conhecimento implica também em aumen-
tar a exigência sobre a formação profissional
dos jornalistas, que deixam de ser meros co-
municadores para se transformarem em pro-
dutores e reprodutores de conhecimento.
Por fim, o conhecimento da realidade é
uma questão tão vital para os indivíduos e
para as sociedades que, se o jornalista não é
apenas quem o comunica, mas também quem
o produz e o reproduz , deve estar subme-
tido a um controle social e a uma avaliação
técnica mais próxima e mais permanente. A
questão do conhecimento que o jornalismo
produz e reproduz e de seus efeitos pode ser
demasiado estratégica para a vida de uma so-
ciedade para ser controlada exclusivamente
pelos jornalistas como grupo profissional ou
pelas organizações onde trabalham.
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