quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pronuncioamento do senador Rodolfe Rodrigues

Como recebi de um grande amigo este discurso abaixo, achei que pode interessar às alunas e aos alunos o pronunciamento abaixo. Com esta publicação não estou me posicionando em relação ao que foi escrito nem às ideias propostas pelo senador.

Randolfe acusa governo ‘ruim de serviço’ e alerta Dilma:
“Não seja a coveira da esquerda, a assassina de sonhos”

BRASÍLIA, 16 – Num duro ataque ao pacote de ajuste fiscal do Governo, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) fez um alerta nesta quarta-feira, 16, da tribuna do Senado: “A presidente Dilma não pode entrar para a história como a coveira da esquerda, como uma assassina de sonhos”. Decepcionado com o desempenho da administração federal, o líder do PSOL desabafou: “O governo é ruim de serviço e suas trapalhadas se multiplicam a cada dia”.
Randolfe lembrou que o governo, dias atrás, acenou com a volta da CPMF sem discutir o tema com seu principal aliado no Congresso, o PMDB, e foi obrigado a recuar. Agora, recuou do recuo, incluindo o ‘imposto do cheque’ no pacote, sem consultar previamente os aliados do Parlamento. O anúncio vago do corte de dez ministério, sem definir nomes, “aumenta o clima de insegurança e a guerra nos bastidores do governo”, acusa o senador.
Olhando para as câmeras da TV Senado, Randolfe cobrou do Palácio do Planalto cinco medidas que podem tirar o governo da beira da cova: “Presidente Dilma, reverta a política de juros altos, adote o imposto sobre os ricos, faça a auditoria da dívida pública, cesse o arrocho aos trabalhadores públicos e privados e poupe os programas sociais, a educação e a saúde das medidas de ajuste fiscal”.
Situação bizarra
Integrante da minoria de esquerda que se declara independente e progressista, Randolfe Rodrigues se mostra surpreso pela guinada conservadora de um governo eleito com um programa que prometia na campanha o que não faz na administração do país: “O Governo Dilma assume cada vez mais as posições da direita, perde a cada dia a legitimidade junto ao povo e aos atores políticos para implementar qualquer medida”, lamenta o senador.
Randolfe citou a situação ‘bizarra’ que caracteriza o atual momento político: “Manifestações da velha direita pedem a cabeça de Dilma, embora apoiem sua política. Do lado oposto, alguns sindicatos de trabalhadores e partidos governistas querem sustentar Dilma, mas criticam sua política”. Esse embate entre os que críticos da política de austeridade e os defensores do impeachment da presidente criou um ‘falso dilema’, segundo o líder do PSOL no Senado: “Ou se mantém um governo conservador, eleito com um falso discurso de esquerda, que castiga os trabalhadores com medidas de austeridade pró-bancos, ou se troca o comando do país mantendo os mesmos padrões econômicos com governantes que não foram legitimamente eleitos”.
Sem citar os nomes dos maiores partidos do governo e da oposição, Randolfe atacou o PT, o PMDB e o PSDB: “Temos que reconhecer que os maiores partidos do país não têm apresentado solução para a crise por que passa o país. Procuram, na verdade, saídas que atendam a seus interesses próprios — ou achacando um governo fraco, ou tentando castigá-lo com uma postura incoerente e irresponsável”.
 Só banco apoio arrocho
Randolfe lembrou, com ironia, que o único setor a elogiar o pacote que amplia o desemprego e a recessão foi o financeiro, pela voz da poderosa Febraban, a federação dos bancos: “Uma das medidas vai diminuir o IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras. Mas, quem são os maiores aplicadores no mercado financeiro, senão os bancos? Eles serão os grandes beneficiados pela medida. Por outro lado, a dona de casa que compra um quilo de farinha vai pagar mais porque a CPMF, que o governo quer recriar, vai incidir em cascata sobre o preço final do produto. O pacote de arrocho foi estruturado apenas para satisfazer a elite financista que suga, agora e sempre, as nossas riquezas”. Citando dados oficiais do governo, Randolfe lembrou que a indústria recuou 6% no primeiro semestre de 2015 e o comércio teve a maior queda nas vendas desde 2003, primeiro ano do Governo Lula. Ao contrário, os quatro maiores bancos do País tiveram um lucro 40% maior nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014.
Randolfe destacou que, desde março de 2013, a taxa de juros já subiu sete pontos percentuais, o que onerou a dívida pública em mais de R$ 200 bilhões anuais. “A diminuição de pouco mais de um ponto percentual na taxa de juros permitiria bancar todos os gastos com educação previstos para 2015 – estimados em R$ 38 bilhões. E pouco mais de dois pontos percentuais permitiriam ao governo economizar o mesmo valor que pretende arrecadar com o cruel ajuste fiscal que está fazendo”. Em vez de aumentar impostos sobre a parcela mais pobre dos trabalhadores e sobre a classe média, o Governo poderia arrecadar mais em setores ainda intocados pela gula tributária do Estado.
Absurdo tributário
E Randolfe aponta os caminhos: “O Imposto sobre Grandes Fortunas, uma obviedade constitucional que nenhum governo teve a coragem de instituir. Os exportadores de minério, como a Vale, pagam só 4% de imposto de exportação. Que tal aumentá-lo? Que tal cobrar IPVA de quem tem iate, jatinho ou helicóptero? Essa gente está isenta, mas o dono de um velho fusquinha, não. Que tal passar a cobrar Imposto de Renda dos grandes executivos, cuja remuneração se dá, em sua maior parte, pela distribuição de lucros e dividendos, que gozam do inexplicável benefício da imunidade tributária? Que tal modificar as alíquotas do Imposto de Renda? Hoje, quem ganha R$ 100 mil está na alíquota máxima de quem ganha 20 vezes menos. O que ganha R$ 100 mil paga a mesma alíquota (27,5%) de quem ganha menos de R$ 5 mil. Qual a lógica tributária desse absurdo? ”
Se não cumprir, no governo, o que prometia na campanha, Dilma Rousseff estará comprometendo a sua biografia, continue ou não no Palácio do Planalto, conforme o alerta final do senador Randolfe Rodrigues: “Presidente Dilma, tanto fará se a senhora permanece na cadeira ou não. O poder já terá sido entregue àqueles que conspiram, não contra o seu governo deste último ano, mas contra o povo brasileiro por toda a nossa história”.

Os indiferentes Gramsci

Texto para o segundo trabalho.

Baseado no que escreveu em seu primeiro trabalho acerca da Constituição, diga, baseado no texto de Gramsci, o que você entende por indiferentes.

http://www.ricardogondim.com.br/perolas/antonio-gramsci-odeio-os-indiferentes



http://www.ricardogondim.com.br/perolas/antonio-gramsci-odeio-os-indiferentes/

Os indiferentes
Antonio Gramsci
Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que “viver significa tomar partido”. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo.
Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às consequências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis.
Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas.
Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
[Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917
Origem da presente Transcrição: Texto retirado do livro "Convite à Leitura de Gramsci"
Tradução: Pedro Celso Uchôa Cavalcanti]

Para ler e refletir

Luiz Cláudio Cunha é um dos mais importantes jornalistas do Brasil, autor de diversos livros. Destaco o livro acerca da Operação Condor porque ele foi, como jornalista, então na Veja (a outra Veja) que descobriu o sequestro de uruguaios por policiais federais brasileiros atendendo uma mparceria que existia entre os governos militares do Brasil, Uruguai e Argentina.

Abaixo uma reflexão que fez a respeito de um roubo de carro em uma rua de São Paulo que virou notícia nacional.

http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/o-jornalismo-que-nao-ve-e-se-omite/